Descrição
Introdução: A elaboração e organização do Dicionário Português-Macua presidiu, inicialmente, a ideia de servir a causa missionária, pondo à disposição dos meus colegas de apostolado um repositório opulentíssimo de palavras do uso corrente desta formosa língua banta que é, presentemente, falada por cerca de 2500 000 moçambicanos. Secundariamente, tive em vista prestar um auxílio a todos os europeus que labutam nesta zona norte do Estado e sentem a necessidade imperiosa de conhecer a língua para melhor cumprirem os seus encargos e funções na vida de relação com os autóctones. A recolha e a selecção dos vocábulos foram feitas, vagarosa e conscienciosamente, com a ajuda de um grupo de nativos perfeitamente adestrados no uso da língua, nas duas circunscrições administrativas de Malema e Ribáue – circunscrições estas que pela sua localização geográfica mais isentas parecem estar de influências linguísticas estranhas. Efetivamente, o macua do interior é um macua que se pode apelidar de vernáculo, porquanto não acusa a influência, pelo menos acentuada, de línguas estrangeiras, como acontece no macua do litoral. Não obstante isso, já remotamente as viagens frequentes dos nativos destas regiões aos centros comerciais do litoral – nomeadamente ao Lumbo, Lunga, Mogincual, Boila, Parapato e Quissanga, em demanda de sal e de armas ou mesmo em tráfico de escravos – e, mais proximamente, o caminho de ferro (Lumbo-Vila Cabral) constituíram veículo poderoso para a permuta de termos, sendo certo que as gentes do interior não têm dificuldade alguma em entender os da costa.
Não passe também sem reparo o facto de em Cuamba, Maia, Mutuáli, Malema e Ribáue correrem vocábulos de origem cinyanja (leia-se cinhanja), devido à aproximação de tribos que falam esse idioma e também aos constantes movimentos emigratórios de nativos, em épocas não muito recuadas ainda, destas áreas para a Niassalândia, actual Malawi. Apesar disso, só se registaram termos de influência cinyanja quando o seu uso se tornou comum»